Rancores à parte, mas a frase propalada inúmeras vezes pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva em suas manifestações “Nunca antes na história deste país” se mostra bastante apropriada para traduzir o bom momento que a irrigação vive no contexto político brasileiro. Cada vez mais, o setor é estrategicamente pautado nas agendas governamentais, nas suas mais diferentes esferas, e juntamente com a valorização da percepção do agro perante a sociedade, desponta como solução para a garantia de sustentabilidade e segurança alimentar da humanidade.
Os indicativos são muitos. O mais recente está na manifestação do atual ministro da Agricultura Blairo Maggi, no último dia 20, em Brasília, na abertura da Conferência Internacional de Cooperação Triangular e Sul-Sul, organizada pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). Na ocasião, ele destacou a importância de “reforçar a prática de irrigação no contexto da segurança alimentar para garantir aumento da produção e da produtividade, a melhoria da renda dos produtores e o uso racional da água”. Maggi enfatizou também que a “relevância dos projetos de cooperação da Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC), mediante de alternativas tecnológicas de produção sustentável e de conservação dos recursos naturais”. No Planalto, irrigação e sustentabilidade agora são palavras de ordem.
Literalmente, um novo ‘mindset’. Aliás, uma realidade muito diferente daquela que vivenciamos num passado bastante recente – considerando que a era PT teve seu fim decretado há pouco mais de um ano –, tempos em que o mesmo Ministério da Agricultura relutava em minimamente aceitar organismos e setores da irrigação em sua estrutura, relegando, com a chancela presidencial, o pesado fardo do comando do setor ao (pasmem!) Ministério da Integração Nacional. Assim, foram mais de 10 anos em que, pela falta de definições e comando, os investimentos e políticas públicas de irrigação simplesmente inexistiram e o setor singrou às suas expensas, o seu espaço neste mar de galeras de piratas e vilões.
Todavia, nem tudo foi perdido neste tempo. Na contramão deste desgoverno, estados como Minas Gerais e Rio Grande do Sul, exemplarmente, avançaram e foram pioneiros em políticas públicas que favoreceram a irrigação. São Paulo, nos últimos 25 anos sempre teve uma atitude tímida perante o setor, mas com o advento da crise hídrica ocorrida nos anos de 2014 e 2015, aprendeu a dura lição e agora encontra na reservação da água para a irrigação, a oportunidade sustentável de atenuar os efeitos da possível seca que se acena para 2018. O secretário Arnaldo Jardim quer “derrubar barreiras para construir barreiras”, ou seja, garantir mecanismos e processos dentro da legislação que ofereçam celeridade na liberação de barramentos – os tão essenciais açudes para irrigação de lavouras –, atacando também em outras frentes, como na implantação de uma câmara setorial e para deflagrar de vez a elaboração do Plano Estadual da Agricultura Irrigada.
De vilã à namoradinha do Brasil, o fato é que a irrigação – essa mesma que os órgãos governamentais federais e estaduais passaram a cobiçar para fazer duplicar nas áreas agricultáveis do País –, avançou e muito. Isso aconteceu à mercê de dois fenômenos básicos. O primeiro deles é a depuração tecnológica que tem impactado em todos os setores produtivos, propiciando resultados antes inimagináveis e que, em boa medida, atende ao anseio de quem persegue o ideal de fazer mais com menos. Isso chegou muito fortemente no campo. Vejamos os indicativos: hoje, mais de 67% das propriedades agrícolas utilizam algum tipo de tecnologia. Pesquisa da Associação Brasileira de Startups, publicada pelo Diário do Nordeste, constatou que, apenas nos últimos dois anos, iniciativas fundadas com o objetivo de levar inovação ao campo quase quadruplicaram.
Outro fator, em ato contínuo a primeira tese, se prende ao trabalho doutrinário realizado por órgãos representativos – e nesta esteira temos associações fortalecidas e muito respeitadas, tais como, Irrigo (Goiás), Aiba (Bahia), ASPIPP (São Paulo), Irrinor (Minas Gerais), Abid, Febrapdp, entre outras tantas resultantes da organização e cotização dos produtores –. O irrigante se preparou tecnicamente para conscientizar e conquistar espaços estratégicos nos organismos dos poderes, exigindo, por conseguinte, da parte do Estado, técnicos e órgãos mais preparados, com formação e informação necessária para atender essa crescente demanda.
Fato. A irrigação avança à passos largos, desencadeando um ciclo virtuoso e que vem gerando mais alimentos para a sociedade, conservação dos recursos naturais, riquezas e divisas para o fortalecimento da economia do País, conhecimento e inovação, enfim, desenvolvimento com sustentabilidade nas regiões onde está presente. Entretanto, alimentar este ciclo é mais do que necessário, interligando os elos relacionais e considerando novos fatos e fatores, aprimorando as tecnologias e práticas, dentro de um processo evolutivo contínuo.
Reconhecer o que conquistamos é importante, mas seguir avançando é essencial, afinal de contas, os problemas ainda existem e não são poucos – haja visto os conflitos e atos desinteligentes registrados dias atrás pela grande mídia no oeste da Bahia -. Assim, ainda sobre a influência do mesmo anti-herói que nos inspirou a esta reflexão, encontro outra célebre frase que, na modesta opinião deste “escrevedor de partpites”, fecha o presente ensaio com uma provocação e com a esperança de fortalecer nossas crenças, valores e atitude: “A luta contínua, companheiros”.
*(Eduardo Henrique Eltink é jornalista e atua como consultor em comunicação estratégica)